O total de 64% dos consumidores da Black Friday tem o desejo como principal motivo para suas compras, segundo pesquisa da plataforma Méliuz, realizada este ano. De acordo com Luciene Bandeira, psicóloga e cofundadora da Psicologia Viva, maior plataforma digital de saúde mental da América Latina e integrante do Grupo Conexa, é positivo aproveitar a data para comprar algo que queira há algum tempo e aproveitar as promoções de forma consciente, mas é preciso ter cuidado para que as compras não passem a ter um efeito compensatório de frustração ou tristeza, gerando compulsão.
“Com a retomada do comércio e a abertura das lojas, juntamente com a Black Friday, as pessoas tendem a comprar mais. Quando há uma tendência para a compulsão, o problema é que o efeito psicológico compensatório da compra passa muito rápido. Logo em seguida o incômodo volta e a pessoa sente novamente a necessidade de comprar”, explica a psicóloga.
Luciene aponta que o principal motivo para a compulsão por compras é preencher uma lacuna na vida. “Já ouvi de uma paciente que comprar fazia ela sentir que existia e que podia. Muitas vezes a compra vem para preencher um vazio e sentir que está recebendo a atenção do vendedor também pode influenciar nesse ato. Dizer para si mesmo que compra porque merece, para aliviar a tristeza ou que será só dessa vez são desculpas comuns para manter o comportamento prejudicial.”
O consumo se torna patológico quando a pessoa realmente perde a noção da realidade, compra de uma maneira desproporcional e gera outros problemas na vida. Compras por impulso pode virar uma bola de neve, gerando um ciclo vicioso onde a pessoa adquire produtos para aliviar um sentimento negativo, gasta além do que pode, se endivida, se arrepende e compra novamente para compensar a sensação de remorso, afetando também a sua saúde financeira. “Esse comportamento vira um transtorno mental quando a vida da pessoa passa a girar em torno do consumo. Problemas financeiros causam problemas emocionais.”
Outro alerta da cofundadora da Psicologia Viva é que não é incomum que a pessoa troque o alvo da compulsão. “Uma pessoa que é compulsiva por comprar roupas, por exemplo, pode substituir por idas ao supermercado. Comprar continua sendo uma fonte de prazer”.
Mas nem tudo está perdido. A psicóloga dá algumas dicas para driblar o impulso de comprar, como ter cuidado com as ofertas, pois não é toda oportunidade que se deve ser aproveitada. “O que se recomenda é que, diante de um impulso de compra, a pessoa pare, respire e se questione se precisa do item e se é uma vontade ou uma necessidade. Outros questionamentos devem ser feitos para si mesmo sobre ter recursos financeiros para pagar e se esse dinheiro fará falta caso a compra seja realizada. Só de a pessoa parar, respirar e fazer esses questionamentos já irá frear um pouco o impulso para a compra”.
Ainda, Luciene aponta que o problema tem solução até para os casos mais graves e é possível reverter a compulsão por compras. “É claro que estamos falando de um transtorno e não é fácil enfrentar isso sozinho. Por isso, muitas vezes, é necessário que a pessoa procure a ajuda de um profissional de psicologia para entender melhor o que acontece com ele, como funciona esse transtorno e aprenda mecanismos de controle da autossabotagem para que então consiga reverter essa situação”, conclui.